Crônica – Peixer x Profeta: o palco político de Joinville

Em Joinville, a política às vezes parece mais uma novela em reprise — a gente já viu o enredo, conhece os personagens, mas sempre aparece um capítulo novo para prender a atenção. O episódio da vez aconteceu nos microfones da Rádio Jovem Pan, onde o deputado estadual Maurício Peixer, presidente do PL de Joinville, resolveu dar uma “puxada de orelha” pública no vereador Cleiton Profeta.

Segundo Peixer, Profeta estaria cometendo um pecado quase mortal: fazer oposição ao prefeito Adriano Silva, do Novo. Para o deputado, vereador do PL bom é vereador alinhado ao projeto do Novo, do governador e, pelo visto, ao humor do próprio Peixer. O recado foi tão claro que nem precisava de legenda, citando o governador o deputado disse que quem não estiver no combo PL–Novo pode, segundo ele, “deixar o partido”.

Mas o curioso é que, em Joinville, falar em oposição é quase ficção científica. A Câmara tem funcionado como uma espécie de rolo compressor do Executivo — tudo passa, tudo avança, até mesmo aquele aumento salarial do alto escalão que chamou tanta atenção que acabou virando caso no Ministério Público de Santa Catarina. O MP apontou ilegalidade e recomendou que Adriano voltasse atrás. Ainda assim, poucos vereadores ousaram piscar diante do prefeito.

E aí entra uma velha conhecida do enredo: a relação de Maurício Peixer com a família de Adriano Silva. Uma relação que, dizem, vai bem além das fronteiras políticas. Peixer foi funcionário da família por anos, e essa história ajuda a explicar por que ele não pareceu motivado com a campanha do próprio partido quando o PL lançou Sargento Lima à prefeitura de Joinville na última eleição.

Do outro lado do ringue está Cleiton Profeta. O vereador ouviu o recado, respirou fundo e respondeu que não pretende mudar sua postura. Argumenta que não é rebelde sem causa: vota a favor do que considera bom e critica o que considera exagero, como o aumento da máquina pública, o reajuste ilegal dos salários do alto escalão, e o eterno monopólio do transporte coletivo. Disse, ainda, que o PL não tem motivos para puni-lo por seguir as pautas do próprio partido.

A cidade observa. O governo segue praticamente sem oposição. E o PL, preso entre alianças, lealdades antigas e cobranças recentes, parece caminhar sobre cascas de ovos.

A novela Peixer x Profeta certamente terá novos capítulos.

Escrito por Enio Alexandre

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