Tome Nota com Enio Alexandre
Ontem, numa breve conversa por telefone, o ex-deputado federal Darci de Matos tocou numa ferida que muita gente na cidade prefere ignorar — ou simplesmente já se acostumou a conviver com ela: a fragilidade política de Joinville.
Darci lembrou o óbvio, mas que parece sempre esquecido: a maior cidade de Santa Catarina, o maior colégio eleitoral do Estado, tem hoje apenas um deputado federal — Zé Trovão (PL). Pelo tamanho e pelo peso econômico, o mínimo razoável seria três. Mas a realidade insiste em ser menor do que o potencial joinvilense. E quando se olha para a Assembleia Legislativa, o retrato não melhora muito.
A perda de espaço vai além. Joinville deve ficar sem o cargo de vice-governadora na próxima eleição, já que o governador Jorginho Mello deve buscar outro partido para compor a chapa. A senadora Ivete Appel encerra seu mandato, e ninguém da cidade desponta como possível sucessor. São peças que vão sumindo do tabuleiro, uma a uma, enquanto a cidade observa tudo de longe.
Darci, diga-se, é uma das poucas vozes que ainda chama atenção para o problema. Porque é, sim, absolutamente incrível que a maior cidade catarinense esteja tão encolhida politicamente. A prova disso está diante de todos: o trecho da BR-280.
Enquanto o lado de Araquari a Guaramirim — área de influência de Jaraguá do Sul — avança, o trecho entre Araquari e São Francisco do Sul, que envolve diretamente Joinville, continua parado, travado, esquecido. E isso mesmo com o porto, com o apelo turístico, com toda a relevância logística da região.
Joinville tem força econômica, população, indústria, influência. O que não tem — e não é de hoje — é força política à altura.
E é sempre o mesmo roteiro. A cada eleição, uma chuva de candidatos locais, mais do que o recomendável. Votos pulverizados, milhares desperdiçados, cadeiras entregues para representantes de outras regiões. E, como consequência lógica, Joinville some também das discussões majoritárias, nunca lembrada como protagonista estadual.
É hora de as lideranças políticas, empresariais e de classe encararem o problema com a seriedade que ele pede. Porque representatividade não é luxo — é sobrevivência. E essa ausência cobra caro.
Mas, claro, na política, projetos pessoais frequentemente pesam mais que o interesse coletivo. Quase sempre, na verdade. Ninguém aqui é ingênuo.
Ainda assim, Joinville precisa escolher se quer continuar gigante apenas no tamanho — ou se quer voltar a ter voz proporcional ao que representa.

